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Caderno de pontos e linhas

Aprendi a bordar independentemente, experimentando desenhar com linhas e agulhas em pedaços de tecido, mas nunca usando uma máquina de costura. De pouco em pouco, fui me interessando cada vez mais com esse meio, que, diferentemente do desenho em grafite, salta da superfície plana e a imagem acaba contrastando mais de seu suporte.

Após alguns anos de experimentações de bordado em retalhos e tecidos descartados, me senti seguro para bordar imagens mais complexas e, por isso, resolvi começar a bordar em um pequeno caderno de papel kraft que tinha guardado.

À princípio, pensei que bordar no papel não seria tão diferente do tecido, já que a técnica seria a mesma. Todavia, bordar em papel se demonstrou de fato bastante diferente do que no tecido. O tecido é formado por tramas com aberturas e, dessa forma, quando bordo no tecido, a agulha apenas atravessa seus espaçamentos, esgarçando os fios que compõem a trama, abrindo espaço para a linha do bordado. Já o papel apresenta uma superfície compacta, e, por mais que seja composto por fibras, não possui aberturas como o tecido. Ao bordar no papel, a agulha fura a superfície para abrir espaço para a linha. Esses furos rompem a integridade do papel e o furo se torna então uma ferida, uma chaga irreparável. Portanto, ao contrário do tecido, os furos no papel são irreversíveis.

A fragilidade do papel também ficou bastante evidente quando, sem querer, puxava a linha do bordado forte demais, fazendo com que ela rasgasse o papel, abrindo uma fissura que dificultava a continuidade do bordado. Ainda assim, fiz diversos bordados no caderno, cada um com uma complexidade diferente do outro, mas sempre valorizando também o seu lado avesso caótico e emaranhado, mas também belo e expressivo.
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